Alenproduções – Sercaça Montaria na Quinta Grande em Coruche
A TV Caça acompanhou uma montaria ao Javali, organizada pela Sercaça na Quinta Grande, em Coruche, no distrito de Santarém.
A montaria ao javali é mais do que um desporto. Desempenha um papel importante no controle da densidade das populações destes animais que, quando em excesso, assolam as culturas agrícolas. Espécies como o javali, correriam mesmo o risco de desaparecer, não fosse o interesse na sua preservação para a caça, uma vez que são, se o podemos dizer, persona, ou melhor, espécie non grata para os agricultores.
A gestão da caça representa, portanto, um papel essencial na preservação das espécies, uma vez que actua, criando relações e parcerias com os agricultores e proprietários locais, explorando os recursos cinegéticos de forma equilibrada e sustentável.
O dia de Inverno, frio e cinzento, ameaçava mau tempo mas cedo, por volta das 8h30m começaram a chegar os caçadores, alguns acompanhados pelos filhos que, desde cedo, vão aprendendo o significado da caça, como esta faz parte e respeita a Natureza e o meio envolvente.
Caça não é sinónimo de matança. A preservação das espécies deve ser respeitada e, depois do pequeno-almoço, mesmo antes de se dar início à montaria, Nuno Vacas, responsável pela gestora de caça Sercaça, reuniu os 36 amantes da actividade venatória para não deixar esquecer alguns pontos muito importantes para uma montaria consciente e bem sucedida.
Antes de se dar início à caçada, é tradição realizar uma curta oração matinal, guardando uns momentos de silêncio em memória dos monteiros já falecidos.
Depois de sorteadas as portas, os caçadores foram transportados cada um para a sua. Pelo caminho, iam trocando histórias de montarias passadas e expectativas para as horas que se seguiriam.
Foram libertadas as matilhas que, neste género de caçadas, desempenham um papel crucial, ao excitar os animais para que abandonem os seus refúgios, nas zonas de mata mais densa, e se tornem mais facilmente visíveis ao caçador. Por vezes, adiantam-se ao monteiro e, quando assim acontece, a natureza toma o seu rumo.
Ao caçador é exigido um grande cuidado na hora de cobrar a presa. Se esta estiver pegada com os cães, ou na sua proximidade, deverá, sempre que possível, abatê-la com recurso a uma faca. De resto não deverá, nunca, disparar se isso colocar em risco os cães.
O abate do animal é, certamente, a face mais visível da caça, mas não representa o seu todo, nem mesmo, talvez, a sua essência. Quem participa numa montaria, contacta com a natureza. Partilha, com os restantes caçadores, a espera paciente pela oportunidade de cobrar a presa e pelo momento certo de avançar.
O javali, apesar da fraca visão, possui uma audição e olfacto muito superior aos sentidos humanos. Se o vento estiver em desfavor, a entrar na mancha, é mesmo muito natural, e frequente, que o javali, sentindo o cheiro do perigo, se afaste da zona de caça, privando o caçador do seu prémio.
Depois da montaria, seguiu-se um farto almoço, regado com o bom vinho ribatejano da Quinta Grande. Recuperadas as forças, Nuno Vacas fez um balanço muito positivo do dia, em que foram cobradas 20 peças, das quais alguns navalheiros com cerca de 80 a 100 kg de peso. Depois de expostas, procedeu-se, como é de lei, ao desmanche dos animais e guarda dos respectivos troféus.
António Aragão não disparou um único tiro durante toda a manhã. Não por falta de oportunidade, mas a caça também tem a sua ética e porcas, com crias, não são para abater.
O matilheiro, com os seus cães, desempenha um papel muito importante na montaria, que não deve ser esquecido. Com o tempo deixa de ser uma profissão, transforma-se num vício. Vício e amor aos cães.